O Lobby São Salvador é mais do que um espaço de recepção da Mostra Casas Conceito 2025 em um casarão no coração do Centro Histórico: é um convite à hospitalidade baiana e uma porta de entrada para a alma viva da cidade.
A inspiração para o lobby vem de dois grandes mestres que deixaram marcas profundas na Bahia: Lina Bo Bardi e João Filgueiras Lima, o Lelé. Lina foi responsável por transformar o Solar do Unhão no Museu de Arte Popular da Bahia (futuramente o MAM – Bahia) e pela criação do projeto para a Ladeira da Misericórdia, sempre com a sensibilidade de valorizar o fazer popular e integrar patrimônio histórico, arte e vida cotidiana. Já Lelé, com sua genialidade construtiva e compromisso social, projetou em Salvador obras como o Hospital Sarah Kubitschek, os edifícios do Centro Administrativo da Bahia e a sede da Prefeitura Municipal, onde técnica, leveza e humanidade caminham juntas. Inspirado nesse legado, o Lobby São Salvador apresenta uma caixa suspensa apoiada em poucos pontos estruturais, evocando a liberdade espacial do MASP e a racionalidade de Lelé, para criar um espaço aberto, convidativo e conectado ao chão da cidade. Os dois arquitetos se fazem presentes também nas placas de concreto plissado, inspiradas na obra dos arquitetos para o Centro Histórico de Salvador.
Mas o Lobby não se expressa apenas pela arquitetura. Ele também é palco para a arte e para o diálogo com os saberes populares da Bahia. As obras selecionadas no espaço contaram com a parceria da Galatea.
As esculturas presentes no espaço nascem de práticas não acadêmicas, moldadas pelo ofício cotidiano e transmitidas por gerações. José Adário é um escultor-ferreiro celebrado nos terreiros de candomblé da Bahia e um artista reconhecido por honrar as raízes afro-diaspóricas que transforma o ferro em esculturas através do seu conhecimento ancestral. Já Gilberto Filho, herdeiro do saber do pai carpinteiro, dá forma a cidades e edificações futuristas imaginárias, afastando-se dos cânones formais da arquitetura para criar mundos próprios. Esses trabalhos se aproximam do olhar de Lina Bo Bardi, que sempre defendeu a legitimidade do design popular e da arte nascida da prática viva do povo.
A experiência se amplia com o trabalho do fotógrafo Bauer Sá, que traz o corpo negro e suas relações com o cotidiano como centro da sua poética. Seu estúdio, pintado de preto como uma câmera escura é o cenário para represtação de cenas cotidianas vividas pelos corpos negros como o seu: a relação com as religiões de matriz africanas, as violências e belezas. A presença de sua obra no lobby reforça a ideia de que a cidade se constrói através dos rostos, gestos e memórias que a habitam.
Em algumas peças, a dramaticidade da luz e o desenho das sombras remetem também ao barroco baiano, tradição que atravessa o imaginário artístico da região e ressoa nas igrejas, na música e na própria forma de viver do povo baiano. Esse contraste entre claro e escuro traz intensidade e emoção ao ambiente, aproximando o visitante não apenas da estética, mas também da essência cultural da cidade.
Assim, o Lobby São Salvador se apresenta como um espaço de encontro entre a arquitetura contemporânea e a memória histórica, entre o design erudito e o saber popular, entre a arte barroca e a expressão contemporânea.
As esculturas presentes no ambiente nascem de práticas não acadêmicas, moldadas pelo ofício cotidiano e transmitidas por gerações.