O projeto arquitetônico do CRIA surgiu para amparar o desenvolvimento de uma tecnologia social desenvolvida pelo IPTI – Instituto de Pesquisa em Tecnologia e Inovação – que promove a melhoria das condições da maternidade e paternidade na primeira infância, cobrindo o período de – 2 anos (24 meses antes do início da gestação) até + 3 anos de idade das crianças e integrando iniciativas de saúde humanizada e agricultura biodinâmica, na perspectiva de servir de modelo e de referência para diversas regiões e comunidades do Brasil.
Essa tecnologia social vem sendo aplicada desde 2022 no povoado da Pedra Furada, município de Santa Luzia do Itanhy, Sergipe e teve como ponto de partida a constatação que 28% das crianças das escolas públicas municipais em Santa Luzia apresentavam sinais de deficiência cognitiva.
Buscando compreender as origens dessa alta taxa surpreendente, o IPTI aplicou uma pesquisa junto às mães destes alunos e detectou altos índices de gravidez não planejada, estresse com o parceiro, estresse financeiro, violência doméstica e consumo de álcool durante o período de gestação.
O CRIA vem acolher, através de encontros semanais nas suas dependências, a discussão de temas que buscam construir uma solução real e sistêmica para as questões da comunidade: planejamento familiar e redução da gravidez na adolescência, promoção da parentalidade e paternidade positivas, qualidade dos serviços de saúde da mulher e da criança, empreendedorismo feminino, redução da violência de gênero, segurança alimentar entre mulheres e crianças, desenvolvimento infantil pleno (aleitamento materno, desenvolvimento afetivo, motor e cognitivo).
O projeto do CRIA aqui apresentado representa o primeiro de uma série a ser implantada no interior do estado de Sergipe, acompanhando a escalabilidade da solução da tecnologia social. O projeto possui o seu programa funcional dividido em três partes: Bloco 1 – assistência médica e da cidadania; Bloco 2 – atenção às mães, jovens e crianças e Bloco 3 – Economia Criativa se adequando às demandas de cada povoado, seu contingente populacional, economia local e características do terreno a ser implantado.
O projeto do CRIA é pensado de forma inteiramente modular visando a escalabilidade da solução para atender às demandas diversas dos povoados rurais em território sergipano. O projeto aqui apresentado é o primeiro a ser implantado no interior do estado de Sergipe, num povoado de economia agrícola e pesqueira. Com isso, há a possibilidade, no momento de replicação do projeto em novos terrenos, da expansão, retração ou adição de novos programas funcionais a partir da associação de módulos.
O projeto conta com duas soluções típicas de módulos, sempre obedecendo ao esquema de uma unidade funcional central protegida perimetralmente por avarandados: nesse primeiro CRIA em início de construção, foi utilizada a primeira solução de módulo estrutural no Bloco 1 – assistência médica e da cidadania e no Bloco 2 – atenção às mães, jovens e crianças; a segunda solução de módulo estrutural foi utilizada no Bloco 3 – Economia Criativa. O acolhimento de todo o programa funcional em blocos separados entre si também contribui para as futuras adaptações do projeto em terrenos com geometrias e topografias diversas, já que evita a construção de grandes edificações e, consequentemente, grandes platôs que demandariam, assim, custosas ações de movimentação de terra.
A estrutura dos módulos se encontra nas suas bordas sem apoios intermediários, executada em pórticos de concreto e em alvenaria estrutural de blocos BTC, permitindo assim, a construção de partições internas independentes da estrutura caso o edifício necessite de novas configurações e adaptações programáticas ao longo da sua vida útil. Essas novas partições podem ser executadas em divisórias leves, em alvenaria de taipa de mão, conforme as orientações repassadas nas oficinas do núcleo de pesquisa e pré-fabricação voltado para a construção civil vizinho ao projeto.
OBJETIVOS DE DESENVOLVIMETO SUSTENTÁVEL:
ODS 2: Fome Zero e Agricultura Sustentável
O CRIA se alinha ao ODS 2 ao promover a segurança alimentar através da valorização da agricultura familiar e da pesca sustentável. O terceiro bloco, dedicado à economia criativa, visa fomentar a produção de alimentos a partir do Aratu, um crustáceo local. Isso não apenas diversifica a dieta da comunidade, mas também gera renda para famílias de marisqueiras. Ao capacitar mulheres e jovens em práticas de beneficiamento e empreendedorismo, o projeto busca fortalecer a autonomia econômica e a resiliência alimentar da comunidade. Além disso, a construção das edificações utilizando Blocos de Terra Comprimida (BTC), produzidos localmente, potencializa a economia circular e incentiva a produção local, garantindo que os recursos permaneçam dentro da comunidade.
ODS 3: Saúde e Bem-Estar
O CRIA prioriza a saúde e o bem-estar da comunidade, com foco especial nas mulheres. O bloco de atendimento médico oferece serviços de saúde sexual e reprodutiva, um tema crítico, considerando as altas taxas de gestações não planejadas. Através de educação e suporte, o projeto busca reduzir as deficiências cognitivas em crianças, promovendo um ambiente saudável para seu desenvolvimento. As dinâmicas de grupo e atividades recreativas também contribuem para a saúde mental e emocional das mães, proporcionando um espaço seguro para aprendizado e troca de experiências. Com isso, o CRIA não só atende necessidades imediatas, mas também contribui para a construção de um futuro mais saudável e consciente para toda a comunidade.
ODS 4: Educação de Qualidade
A educação é um pilar fundamental do CRIA, especialmente no segundo bloco, que se dedica ao desenvolvimento infantil e à formação de mães. O projeto visa combater a deficiência cognitiva em crianças por meio de atividades lúdicas e educativas, preparando-as para uma vida escolar bem-sucedida. Para as mães, oferece capacitações que vão desde habilidades práticas até formação profissional, visando promover o empoderamento e a autonomia financeira. Ao integrar a tecnologia da informação, o CRIA busca garantir que mulheres e jovens tenham acesso a ferramentas modernas, ampliando suas oportunidades educacionais e profissionais. Através dessa abordagem, o CRIA não apenas melhora a qualidade da educação, mas também cria um ambiente inclusivo e acolhedor, onde todos podem prosperar.
ODS 5: Igualdade de Gênero
A igualdade de gênero é um dos pilares centrais do CRIA, com uma abordagem integrada para empoderar mulheres e meninas. O projeto oferece um espaço seguro para que mães e jovens mulheres possam aprender, compartilhar e desenvolver suas habilidades. As dinâmicas e oficinas são projetadas para promover a saúde reprodutiva, discutir direitos e proporcionar formação profissional, abordando diretamente as desigualdades enfrentadas por elas na comunidade. Além disso, o CRIA valoriza o trabalho doméstico, tradicionalmente não remunerado, e busca transformá-lo em um ativo social e econômico. Ao promover o acesso a oportunidades de liderança e empreendedorismo, o projeto estimula a independência financeira e a autoconfiança das mulheres, criando um impacto duradouro nas gerações futuras e contribuindo para uma sociedade mais justa e equitativa.
ODS 8: Trabalho Decente e Crescimento Econômico
A economia da comunidade da Pedra Furada é baseada em torno do Aratu, sendo o povoado composto majoritariamente por marisqueiras e agricultores que possuem uma renda média abaixo de 1 salário mínimo. A proposta do terceiro bloco é a economia criativa, que busca desenvolver novas habilidades e estratégias para empreender a partir do Aratu e da agricultura familiar, melhorando a renda de jovens, mulheres e famílias. O objetivo principal é assegurar às mulheres e jovens independência financeira, acesso igualitário à formação profissional e oportunidades de empreendimento e lideranças às frentes socioeconômicas. Além disso, todas as edificações desse CRIA e dos que serão replicados, terão como material base o Bloco de Terra Comprimida – BTC produzido pelas mulheres participantes da recém-inaugurada unidade empreendedora de Pedra Furada (resultado do projeto complementar da Escola da Pedra Furada), tendo como objetivo apoiar o trabalho local dessas mulheres e assegurar novas oportunidades para o aumento de renda das famílias.