O projeto do restaurante PUPU’S Panc Party surgiu como uma oportunidade de contato direto com a cultura caiçara do litoral do Rio de Janeiro.
É dessa matéria viva que o chef Bernardo Arthuzo retira suas referências para criar uma gastronomia autoral, com alma e coração de Paraty, cidade histórica que abriga o restaurante.
Implantado em uma das esquinas do conjunto conhecido como Quadrado Mágico, no centro histórico de Paraty, ao lado do Sandi Hotel, o restaurante se abre para a Rua do Comércio através das históricas e tombadas portas de madeira que anunciam um piso de cerâmica artesanal em azul-turquesa — primeiro contato entre arquitetura e lugar.
A partir daí se constrói-se uma sequência de relações entre espaço e gastronomia. O balcão em terracota, aludindo aos modos de preparo de parte do cardápio, torna-se também área de finalização dos pratos pelo chef e proteção ao grande braseiro — coração visível da casa. Mas é do mar, como o próprio piso já sugere, que aparecem os principais vínculos entre arquitetura e culinária.
No fundo do salão, voltado para a rua, um conjunto de covos — armadilhas de pesca em vime, usadas tradicionalmente para capturar peixes e crustáceos — redesenha o forro de parte do salão. Nesse mesmo ambiente, a divisão entre cozinha e salão se resolve com o casco de um barco de pesca, matéria do ofício local apropriada ao projeto.
Junto ao salão principal, um forro pré-existente preservado sem alteração de sua geometria teve apenas uma revisão de sua estrutura junto ao telhado histórico para receber o elemento central do projeto. A partir da referência à “Fish Lamp” de Frank Gehry, o projeto encontra no artista plástico e escultor Nadaleto não apenas um colaborador, mas um interlocutor sensível. Dessa aproximação nasce a figura de um grande peixe suspenso no forro — não como ornamento, mas como afirmação. Um ponto de tensão no espaço, que chama o olhar e afirma a presença da arte como parte da construção.